Um Brinde à Poesia

Um Brinde à Poesia

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um Brinde à Poesia Nit. - Primeira Edição de 2014






A CHAVE MESTRA
 Lucília Dowslley

Palavras coloridas
Que se perderam
No branco nada
Poderiam criar asas
Desenhar novo mundo
De traços originais
Delinear projeções
Aspiradas por jovens
Poetas dos sonhos
Voar balão azul
Aqui na Terra
E um pouco mais além
Saber que um desejo
Pode ser mais que vontade
Quando o pulso
Vem explodindo paixão 
Essencial espectro divino
Sopro na alma
De todo ser que um dia
Aqui passou
Sensibilizou e amou
Simples assim
E por isso mesmo
Enigmático
Pegue a sua bússola
Vá  mais além
Aventura o espera
A matemática da criativa
Existência deslocando-se
Entre estreitos dois caminhos
A chave mestra da vida
Aqui agora
Tempo espaço
Ser ter estar
Equilibrar
Um celebrar de vozes
A tilintar no ar
Fazer viver valer
Um Brinde à Poesia!




O trem das coisas
Patrícia Porto

A gente perde o ônibus,
os óculos,
o trem das coisas.
Não o amor.
O amor se vai,
se es vai,
des via,
        O coração é que abisma.



Toda maçã será comida
Patrícia Porto

A mulher que sou é um bicho tolo,
ama sem vícios,
sem recompensas,
sem garantias
ou avisos prévios.
A mulher, que eu sou - é um bicho tonto,
é um bicho doido.
Perdoai.



amor de mais mistérios...
Patrícia Porto


o Misterioso do amar que leva esse poema é para intentos.
As náuseas da mulher que chora o intenso desse parto,
eu as partilho, porque partilho do tempo a necessidade de escorrer!
Dê-me ampulhetas, mãos pra segurar areia...
Entre meus dedos finos, meu caminho de estrelas diz:
Eu te quero o muito desse verso...
Em dias de saudades
eu sonho é contigo uma nova linguagem.
Que sonho é esse, meu amigo?

Divide o pão e o sol comigo.
O misterioso da paixão que queira
me sopra o ouvido... Um sopro bom do teu sensível.
Desfaz esse teu medo de abismo.
Tem tanta brisa e tanto espaço aqui nesse quarto de hora,
descansa no meu tempo escorrido o Amor e seus mistérios tantos. 


Bicho do Mato.
Patrícia Porto

Vó me chama, eu ouço...
Quero voltar pra esse dentro,
quero voltar pro teu mundo,
quero meu, teu colo sereno.
O mundo é tão feio daqui, é o demo!,
o mundo da cidade grande é grande no apedreja.
Eu com essa cara de fraca, com esse jeito de chute,
com essa roupa de chita, esses pés de chão sem sossego,
minha alma é tão a nordeste de tudo.
Eu que só fiz chorar desde que me vi sentada nessa fabricação de gente,
já inundei dois sertões, dois rios, dois lagos e um caminho.
E até aprendi essa língua, encolhi  meu sotaque,
vesti fantasia de minha mais alta miséria!
Mas não sou ninguém desses,  deles sou o só do invisível,
o pó da mesa,  o pó do miolo que cai, o que se varre.
Sem luz nem vela,  agarrei-me ao pé de minha santa,
pedi tanto a São Benedito, fiz tanta prece,
tanta promessa de juntar meu pé de meia.
Mas a cidade grande te sacode até moer,
enfraquece os ossos, te bate na cara e violenta: “Cai, peste!”
É um sem saída, é um sei, não sei, não vejo por onde se abre mais a porta, portinhola,
alçapões, e os desvios.
Parece até que perdi a hora de voltar, minha mãe.
Já nem sei mais se de onde sou sei onde fico. 
Sou Bicho do Mato. Do Mato! O mato que me come e dorme.
Eu assobio de medo, mas vocifero tinhosa, esse brocado é de destino.


Poetisas
Patrícia Porto

Todo poema um agudo dentro,
um  fosso,
a ferida aberta trágica,
uma flor arrancada dos espinhos.
A face de um Cristo emoldurada,
um desejo de fé,
uma saudade dobrada,
uma teia suspensa com uma aranha,
uma aranha pendurada, perdurada
a aranha a espera de ser alvejada
por mãos imensas.
Não mate a aranha, requer a escrita.
Não desvulcanize a aranha em seu devagar
exercício de existência.
Onde a morte a liberta do tapa da vida,
ela constrói uma nova gravidade.
E cai, teia, feia, forte, elástica, corcunda.
E é poema, um grave som de felicidade.
Feito.







"O que mais gosto em você"
Sérgio Gramático

São essas sardinhas
que se espalham do narizito
rumo às maçãs da face
dando à fêmea

ares de menina sapeca
E essa cintura que se afina violonicamente
antes de se revelaram 
suaves e volumosas 
em ancas
E esse bom humor de manhã de domingo
a qualquer tempo
com esse estoque abarrotado de risos
E essa enfiada aflita de unhas 
nas minhas saboneteiras
causada nesse nervoso de dentes apertados
na querência de mais atenção e tato
E essa voz de criança e sarcasmo
ao me chamar de neném
E esse aperto de dedos entrelaçados
que me dá quando o avião decola
E essa liberdade de cantar qualquer letra
mesmo que não seja a dessa música
E esse abraço de coxas à noite
a nos fazer mais nós ainda
E esse aroma que um pós-banho exala
da essência da tua pele
me inebriando
E esse zelo de anotar fatos e dados
nas nossa viagens
E esses pezinhos mastigáveis
que eu quero morder o tempo todo
que vão pisar muita estrada
junto aos meus
E essa fungada que dá num rompante
atrás da minha orelha desavisada
E essa forma de sentar 
enfiando a panturrilha de uma perna
embaixo da coxa da outra
quando na cadeira do computador
E essa empolgação quando conta novidade 
prendendo o cabelo atrás da orelha
E essa boca que desenha os fonemas
que profere palavrões sem raiva
que sorri
que (graças a Deus) me beija
E essa vontade incansável
de aprender e aprender
pra se construir melhor pro mundo
E essa deitada de cabeça no meu ombro
E esses planos de futuro unido
E esse abraço que me pega pra si
E essa fé que nos faz movimento
E esse tudo completo
Esse complemento de mim
Essa tua melhor imperfeição pra combinar com a minha
Esse jeito de sereia fada
de jovem senhora
de mulher loba
E essa alma fundida com o corpo
no amálgama do belo com o belo
E esse amor que te transborda
que te sustenta e retroalimenta
que nos empanturra e não nos sacia
Esse amor construindo
Esse amor companhia
Esse amor harmonia que tu trás pra gente
meio eros, meio ágape
todo amado
Esse amor possível
que escreve 
singelo e colorido
a história de nossas vidas.












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