Um Brinde à Poesia

Um Brinde à Poesia

sábado, 28 de junho de 2014

Um Brinde à Poesia no Solar do Jambeiro















PARTOS
Eda Damásio



Após a entrega, rendição
Quando tudo afeta e impregna a alma.
Gestação
Reflexão.

Logo darei à luz as trevas do meu ser:
Enigmas que eu desvendo ao escrever.

Venham ver, ouvir!
Tenras, fresquinhas
Acabei de parir!

Não posso dizer que são só minhas.
Têm o sêmen de todas as paixões,
De tudo que vivi.

Quantas sensações em ebulição
Eu sinto nas entranhas!

Outras estão por vir
Já se movimentam e gritam.
Logo nascerão outras poesias.





SOU POESIA
Eda Damásio


Sou vinho de guarda
Que o tempo tempera
Adocicando espero

Na solidão da adega escura
Transmuto-me a cada instante.

Fermento sensações,
Sonhos, espantos

Embriago a alma
Dou asas às palavras
E me deixo sorver pelo poeta
Eu sou Poesia!


BORDADEIRA
Eda Damásio

Bordei um pintinho
Desenhado por minha mãe
E alinhavei uma cerca
Para ele não fugir.

Outros desenhos, caminhos,
Foram feitos
Para com linhas coloridas
Eu cobrir.

Depois continuei bordando
Labirintos coloridos.

São tantas linhas,
Tantos desmanchos,
Começos e recomeços...

Linhas que se partem,
Se emaranham
Perco o fio
Acho,corto
Faço nós.

Ai!Me espetei!
Com a linha vermelho sangue
Da paixão
Faço “pontos cheios”.

Não tenho mais medo.
Já nem penso em cercas.
Enquanto houver linhas
Estarei a bordar.





SOLIDÃO
Eda Damásio

Chegou, e apossou-se do imenso vazio.
Entrou pelas portas trancadas de chaves perdidas.
Ocupou espaços onde antes de ouviam
Arrulhos de amor, explosões de alegria.
Crianças corriam, e seus alaridos
Os cantos enchiam.
Amigos que vinham sem pedir licença
Para  desfrutar as pequenas delícias
Do meu dia a dia.
A saudade acordou-me do tédio profundo.
Não! A Solidão ali não ficaria.
Agora eu ti há as chaves
Que as lembranças traziam.
Abri uma janela por onde ela entraria
Quando eu a convidasse
Para colorir de tons acinzentados
A tela da poesia.





A Tecelã
Eda Damásio

Procuro o fio da meada
Que entre outros se perdeu.
Buscando a razão da vida
Quem vai se perder sou eu.
O fio que se embolou
No início da meada
É agora seu final:
Princípio e fim de uma estrada.
Nada aqui é permanente
Tudo é mera ilusão.
Teço incessantemente
Os meus fios de algodão
Que nos percalços da vida
Me agasalham o coração.








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